Adalberto Alves* - A palavra "Betesda" significa, em hebraico, casa de misericórdia. Naquela época aconteciam muitos milagres em Betesda, muitas pessoas iam para lá na esperança de receberem a cura, deitado pelo chão, ficavam esperando o milagre (Jo 5.1-9). Ali tinha uma grande multidão de enfermos, cegos e mancos, esperando os movimentos das águas. Segundo o texto bíblico em tempos descia um anjo e agitava a água do tanque e quem entrasse no tanque ficava curado, mas ali tinha um homem que há 38 anos, estava enfermo, como não tinha ninguém para ajudar a entrar no tanque perdia a sua vez, pois outro entrava na sua frente. O contexto da época era de uma sociedade muito individualista e Jesus o Pastor os pastores dá uma demonstração de misericórdia e devolve a vida e a saúde ao homem que depois dá testemunho de que Jesus é o Filho de Deus.
Betesda só tinha o nome de casa de misericórdia, na prática o que acontecia era angústia e decepção para os doentes que eram desprezados pelo sistema, muitas pessoas iam para lá na expectativa de receberem a tão sonhada cura, mas ficavam deitados ou jogados pelo chão na espera de um milagre. E a igreja do século XXI está fazendo o mesmo que Betesda fazia? A proposta bíblica diz que a igreja é o lugar do exercício de cura da misericórdia e clínica da alma. Como em Betesda, a igreja acolhe centenas de pessoas enfermas no corpo e na alma. Ficam anos participando, indo e vindo, mas ficam como aquele homem paralítico, nunca são curadas. Isto ocorre sem dúvida pela insensibilidade e pela proposta individualista e egocêntrica que se instalou entre os pastores tornou-se parte integrante de nossa teologia.
Esse tipo de teologia é bem individualista e castra o evangelho, isto é, volta-se para as pessoas individualmente e propõe soluções isoladas para elas. A teologia pregada por esses pastores "líderes" se manifesta na prática das orações, com expressões do tipo: "meu Deus", "meu grande Deus", "meu Senhor?"; Nas petições: "dá-me um carro novo", "cura minha enfermidade", "salva minha vida", "cura minha família", "abençoa meus planos", "abençoa meus negócios", este tipo de atitude se revela nos cânticos e hinos que também são bem semelhante ás orações.
Tudo isto desemboca numa prática de vida de insensibilidade para com as pessoas e os problemas que as cercam. Em Betesda as pessoas tinham de cuidar de seus problemas, e isto impedia que os mutilados e identificados na miséria, pudessem receber a ajuda de alguém e ninguém se importava com o sofrimento dos outros. Fato comum entre os cristãos. Poucos se preocupam com as mutilações físicas e emocionais que estão ao redor. As pessoas estão envolvidas com suas próprias doenças, não enxergam a enfermidade de quem está ao lado, ocupando o mesmo espaço, sentado domingo a domingo no mesmo banco, levantam as mãos para o alto, mas não são sensíveis em estender as mãos para os que estão ao lado. Isto faz das igrejas uma verdadeira "Betesda" de nome bonito, esplendido. "casa d e misericórdia" a sua essência é só o nome, o outdoor, a placa. A igreja hoje faz o mesmo, é a casa da misericórdia que não pratica a misericórdia. A igreja não quer aprender a misericórdia, isto faz dela um verdadeiro depósito de enfermos, onde ninguém é atendido, suprido, aliviado, curado. Os enfermos ficam na igreja como se estivessem apenas esperando a morte chegar.
Diante do mundo moderno, os pastores devem propor para a igreja, o exercício da fé, misericórdia para com "paralíticos" dar vida aos pobres, marginais, famintos, prostitutas, homossexuais, aidéticos, mendigos, deprimidos, oprimidos e contra todos que de alguma forma, tornaram-se vitimas do pecado e da sociedade cruel. Há gente que precisa de abraço, carinho, amor. Finalmente a igreja, precisa tomar consciência de que ao exercer misericórdia, catalisa resistências, às vezes no próprio ambiente religioso em que está, afinal, ser misericordioso é denunciar a dureza de cora ção que existe nela própria. Que Deus na sua infinita misericórdia continue nos abençoando. Amém!
*Adalberto Alves de Souza, Teólogo Graduado Pela Universidade Metodista do Estado de São Paulo – SP e Acadêmico de Filosofia (Licenciatura Plena) último período, Pelo Centro Universitário Claretiano de Porto Velho – Rondônia.
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